Apesar de o assunto BIM e CAD serem motivo de centenas de conversas em grupos de WhatsApp, posts no Linkedin, estudos em universidades e case de grandes empresas, ainda existem dúvidas relacionadas à real diferença entre o processo de projeto dos dois, além de uma representação tridimensional da edificação. Tais dúvidas implicam em indecisões sobre quando optar por uma solução à outra, qual a mais vantajosa, entre outros, o que pode prejudicar a eficiência e produtividade da obra.
Depois de acompanhar de perto o processo de projeto e migração do CAD para BIM de mais de quinze construtoras, queremos abrir o jogo e apresentar as diferenças práticas dessas mudanças, o que pouca gente conta, mas que todo mundo quer saber.
Se você ainda não contrata projetos em BIM incentivo que permaneça aqui para lhe darmos informações diretas sobre tais diferenças para que possa tomar sua decisão. Caso contrate, mas ainda tem aquela dúvida de se está tirando o “melhor proveito” da metodologia, a gente também quer lhe dar algumas dicas.
O que é CAD?
O CAD pode ser facilmente explicado como um conjunto de representações geométricas como linhas, pontos e círculos que juntos formam a representação gráfica dos elementos. Ou seja, se o objetivo é representar uma janela basta desenhar no software diversas linhas ou apenas um retângulo para tal. Ele foi o sistema criado para desenho e documentação técnica e substituição de grande parte do trabalho manual desempenhado por equipes.Tal tecnologia representou um grande salto para o desenvolvimento de projetos, otimizando o tempo dos desenhistas, reduzindo prazo de projeto e permitindo realizar ajustes facilmente, uma vez que o processo em papel gerava um grande esforço para representar alterações devido a fatores como dificuldade em apagar algo.
O que é BIM?
Grande parte da indústria, como a petrolífera e automobilística possuem softwares capazes de controlar e acompanhar todo o fluxo de informação para garantir a entrega dentro dos padrões de qualidade para seus produtos. Já a construção civil não era capaz de ter este controle com os processos em CAD, uma vez que as informações criadas se tratavam apenas de dados geométricos. A partir disso, o BIM se tornou um grande aliado ao processo de readaptação e otimização do setor, ajudando a elevar a construção civil a patamares superiores em nível de tecnologia, mostrando que fazemos parte de uma indústria capaz de absorver o potencial que a digitalização vem trazendo para diversos segmentos. Através da metodologia BIM os elementos passam a carregar informações maiores do que apenas geometria, como por exemplo uma janela pode carregar a informação material de execução, fornecedor do equipamento, índices térmicos e acústicos.
Diferenças entre BIM e CAD
Falando na prática, a principal diferença entre entre os processos em CAD e BIM se trata de o BIM garantir ao dono do empreendimento a centralização das informações.
Nestes moldes o projeto carrega mais dados do que simplesmente a informação geométrica bidimensional. O empreendedor passa a ter liberdade para tomar decisões quanto ao empreendimento antes do início da execução, uma vez que todos os dados estão representados na construção virtual. Tomar decisão na fase de projeto é capaz não só de anteceder problemas como também leva a investir tempo na parte com menor custo agregado do que ter que tomar decisões no momento da obra, levando a paralisação de frentes de trabalho, necessidade emergencial de compra de materiais e o famoso retrabalho.
No processo CAD boa parte das verificações exigem um grande conhecimento e capacidade de abstração do profissional, uma vez que plantas 2D são sobrepostas e a partir disso deve-se imaginar as interferências entre disciplinas. No modelo BIM as verificações podem ser mais minuciosas, já que conta com mais informações. Estas verificações acabam tendo papel fundamental na redução de desperdícios em obra devido a redução de retrabalhos por problemas que já foram resolvidos na fase de projetos.
Por que o BIM está ganhando espaço na construção civil?
O maior responsável pela disseminação do BIM, popularmente, são as verificações de interferência física entre os elementos, o Clash Detection. Neste processo a equipe de compatibilização pode criar regras para seleção de elementos e verificar a sobreposição entre eles.
Por exemplo, acabamos de receber o primeiro pré-formas da estrutura e faremos a análise de verificação da relação dela com a arquitetura. Um problema muito comum são vigas de borda da edificação colidindo com a região superior de janelas. Nestes casos precisamos criar uma regra que filtre todas as esquadrias e outra regra que filtre todas as vigas. Depois disso as regras de seleção são adicionadas para que sejam verificadas umas contra as outras, e caso alguma esquadria esteja sobrepondo elementos estruturais o software irá indicar.
Essas verificações automatizadas são úteis para dar agilidade às compatibilizações e reduzir a possibilidade de erro humano que na análise puramente visual pode “deixar passar” algo e isso causar problemas na futura construção.
É importante salientar que algumas pessoas acham que o clash detection é o “salvador da pátria”, a solução para todos os problemas. Quem diz isso está enganado! O clash é sim muito útil, mas não é capaz de garantir a compatibilidade completa da edificação. Por exemplo, pé direito, largura de corredores, rota de fuga, peitoril de esquadrias e diversas outras informações não se tratam de colisões físicas entre elementos e consequentemente não podem ser verificadas por tal método e precisam ser analisadas de forma diferente.
#Dica 01: se alguém oferecer compatibilização para seus projetos e usar isso como sinônimo de lista de clash detection, você pode estar desperdiçando seu dinheiro.
No projeto em CAD os levantamentos de quantidades deverão ser manuais.
Já com modelo BIM as quantidades de materiais podem ser gerados facilmente pelo fato de os elementos serem “inteligentes”, ou seja, carregarem diversas propriedades, como volume, área e comprimento.
A principal atenção neste caso se deve a verificação de se o modelo está de acordo com a realidade construtiva da empresa para que os dados sejam realmente úteis.
Por exemplo, não adianta a arquitetura entregar a área de forro de quartos se a construtora não executa forro neles ou o hidrossanitário entregar uma lista com a soma de todas as tubulações de 100mm do empreendimento sem distinção por pavimento se é essa a forma que a construtora se organiza para compras e planejamento.
#Dica 02: requisite ao projetista que entregue os quantitativos e modelo organizados conforme sua EAP ou estrutura de compras para que eles sejam realmente úteis e não se trate de uma lista sem segmentação.
Hoje alguns dos principais motivos de atraso nos prazos de obra são incompatibilidades advindas dos projetos, material insuficiente para completar serviço (desencadeando tempo de espera para chegada de novo material) e falta de recursos (orçamento ultrapassa o orçamento inicial e atrapalha fluxo de caixa).
Quando falamos de modelo BIM, por se tratar de um banco de dados, podemos mitigar boa parte dessas dores de cabeça. Por exemplo, a verificação adequada e compatibilidade entre projetos e processo construtivo da empresa e o levantamento de quantitativos atrelado a EAP de orçamento e de planejamento da construtora. Estas ações garantem maior previsibilidade para a etapa de obra uma vez que o planejamento da edificação está baseado nos dados do empreendimento específico e não em média de dados históricos da empresa.
#Dica 03: Ao contratar projetos em BIM procure mapear quais são os principais problemas que você espera resolver na sua obra e encontre uma equipe especializada para transformar estes objetivos em realidade no seu projeto.
Além das reduções de custo já citadas anteriormente devido a redução de retrabalho e maior previsibilidade da construção, com a metodologia BIM é possível realizar rapidamente estudos de custos para possíveis soluções de projeto e métodos construtivos, uma vez que informações de quantidade e custos podem ser associadas aos elementos. Dessa forma, a construtora pode testar as alternativas viáveis para sua construção e optar pela que mais se aproxima de seus interesses financeiros e premissas.
#Dica 04: Opte por projetistas e equipe de coordenação que sejam engajados e realmente se preocupem com a otimização de sua construção, ele poderá lhe apresentar ótimas alternativas.
Por último, mas não menos importante, o BIM vem se destacando por “trazer todos os envolvidos para a mesa de discussão”.
As equipes de projeto interagem cada vez mais para chegar a melhor estratégia para o empreendimento, a equipe de obra é trazida para discussão de validação de soluções e equipes de orçamento e planejamento tem a liberdade de requisitar a forma de como as informações serão mais úteis para seu trabalho no futuro.
É muito importante salientar que isso não é novidade para ninguém, no modelo de contratação 2D todas as decisões podem ser tomadas em conjunto, mas agora a construção virtual permite percepção de diferentes pontos de vista, exigindo a participação de todos para o sucesso do projeto.
#Dica 05: Nunca esqueça de incluir sua equipe de obra, planejamento e orçamento no projeto, eles serão beneficiados diretamente pelas boas escolhas.
Depois disso tudo fica claro que o BIM garante mais informações circulando na etapa de projeto e transparência nas decisões tomadas tanto pelo projetista quanto pelo cliente. Pelo fato de termos tantos dados e trocas acontecendo a figura do gerente e coordenador para garantir a comunicação adequada se faz cada vez mais necessário. No artigo Como construtoras e incorporadoras gerenciam projetos em BIM lhe trouxemos a visão de como fazer este gerenciamento da melhor forma.
Independente da adoção do BIM ou não, o importante é que as construtoras e incorporadoras entendam os gargalos de suas empresas e encontrem a real origem para tais problemas, muitas vezes isso irá refletir no projeto. No mercado da construção, a redução de custos pode significar não só maiores margens de lucro como também poder de negociação com o consumidor final, permitindo sair na frente da concorrência em questão de preço e qualidade de obra.