Se você trabalha ou já trabalhou com BIM (Building Information Modeling), já deve ter ouvido em algum momento do termo LOD. O termo que, em inglês, é Level of development, se refere ao nível de desenvolvimento do projeto. Com o avanço do uso do BIM e o enfoque maior na estruturação dos seus processos, o termo LOD cada vez mais vem sendo substituído pelo conceito de NNI (Nível Necessário de Informação).
Na Otus, usamos o que chamamos de RIE (Requisitos de Informação dos Elementos) que é uma adaptação do LOIN presente na norma EN 17412-1:2020 a fim de atender o NNI presente na ISO 19650.
Nesse blog, você vai entender o que significa LOD, como ele é dividido, e os motivos para que o seu uso não seja incentivado quando se trata de coordenação e gestão de projetos em BIM.
Tópicos:
- O que é LOD?
- Porque o LOD foi criado
- Os níveis do LOD
- LOD na prática
- LOD x RIE
- Requisitos de Informação dos Elementos (RIE)
- Como usar o RIE no projeto BIM
O que é LOD?
De acordo com Caetano (2021), o LOD (Level of Development) ou Nível de desenvolvimento do modelo é uma referência proposta pelo American Institute of Architects (AIA) e consiste no grau de informações e maturidade de um modelo BIM. Costuma ser utilizado como um critério de contratação para definir as entregas dos ciclos de projeto.
Mas o que isso quer dizer?
Quer dizer que, no momento da contratação do projeto, o LOD pode auxiliar o alinhamento da quantidade de informações que serão entregues pelo projetista à construtora. Isso garante que a construtora não cobre do projetista um detalhamento gigante de projeto na fase de estudo preliminar e que o projetista não entregue um projeto básico no momento da entrega do projeto executivo.
Mas, como vamos ver mais para frente, o conceito de LOD não aparece na NBR ISO 19650, isso faz com que seu uso seja desincentivado, implicando no surgimento de novos termos, dando espaço para um maior nível de detalhamento de informações e um plano mais estruturado para contratação de projetos em BIM.
Porque o LOD foi criado
O LOD foi criado pela Vico Software e originalmente significava Level of Detail, sendo mais tarde rebatizada de Level of Development quando aprimorado pelo American Institute of Architects (AIA), deixando o conceito mais genérico e padronizado.
A mudança realçou a importância do uso de recursos geométricos e das informações não gráficas que os elementos BIM podem carregar, trazendo mais confiança para o elemento. As especificações do LOD não ditam os níveis de desenvolvimento para cada etapa do projeto.
Os níveis do LOD
Na teoria, o LOD é dividido em níveis, de 100 a 500, sendo classificados da seguinte forma:
LOD 100
O LOD 100 é o nível mais básico, onde o modelo é apenas uma volumetria conceitual. Essa volumetria será mais utilizada para definição e locação dos espaços que serão utilizados ou para tirar a área aproximada de ocupação do objeto.
LOD 200
Nesse momento é onde os parâmetros de área, volume, altura, localização e orientação começam a aparecer de forma mais definida. Temos uma melhor visão do objeto que está sendo representado e informações não gráficas podem ser adicionadas ao objeto.
LOD 300
É onde o elemento começa a entrar em um estágio mais detalhado. Informações como tamanho, localização, orientação ou informações não gráficas, como tipo de material, já podem ser extraídos do elemento.
LOD 350
Nessa etapa, o projeto, em teoria, está em fase de documentação. O elemento está modelado com as informações necessárias para a execução, contendo componentes gráficos e textuais.
LOD 400
Nesse nível de desenvolvimento, é representada a fabricação e montagem dos itens. Aqui o elemento é modelado com precisão e detalhamento suficiente para a fabricação.
LOD 500
Por fim, temos o LOD 500, que não é utilizado em etapas de execução do projeto, mas sim para realizar o as-built de algo que já foi executado, contendo nível de precisão alto.
Fonte: SDS Educa
LOD na prática
Cada empresa possui um nível de controle e especificação de detalhes, então não é possível afirmar com certeza que o LOD 300 de uma empresa será igual ao LOD 300 de outra. A teoria de LOD é um embasamento muito interessante para entender melhor os níveis de informação mas, como veremos a seguir, não deve ser aplicado na prática, e cada vez mais vem sendo alterada a ideia de utilização do LOD.
O entendimento quanto ao nível de informação contido no projeto deve ser definido com base nas especificidades da construtora e em como ela precisa que essa informação seja apresentada, podendo mudar dependendo do projeto. Para que essa forma de segmentação da informação seja mais fácil, foi criado então o conceito de requisitos de informação dos elementos.
LOD x RIE (Requisitos de Informações)
Como dito anteriormente, o conceito de LOD acaba sendo muito amplo dentro do gerenciamento e coordenação de projetos em BIM e, por isso, seu uso não é muito incentivado para esses casos.
Quando se atua com diversas construtoras com padrões construtivos diferentes, é necessário que as informações sejam melhor estabelecidas para as diferentes disciplinas, e para isso acontecer dentro de um padrão, é necessário definir um método de atribuição do NNI (Nível Necessário de Informações).
Na Otus, utilizamos um padrão que chamamos de RIE (Requisitos de Informação dos Elementos) que é baseado em conceitos do LOIN da EN 17412-1 a fim de atingir o Nível de Informação solicitado pela ISO 19650. Basicamente, o LOIN está relacionado a diversas informações que não necessitam ser priorizadas no estágio atual de mercado da construção, por esse motivo adaptamos sua proposta para algo que podemos aplicar dentro dos projetos.
Por exemplo: uma construtora deseja construir um prédio e quer contratar o projeto arquitetônico e hidrossanitário. Essa construtora não deseja tirar quantitativos da arquitetura e nem irá permitir personalizações nos apartamentos, então não há necessidade de criar camadas nas paredes para diferenciar os elementos. Ao mesmo tempo, ela precisa de detalhes da tubulação, como marca, material e tipo, para tirar o quantitativo de conexões, detalhar as furações nas vigas e detalhar desvios de prumadas.
No exemplo da construtora acima, não poderíamos definir um LOD para todos os projetos, devido ao nível de informação dos elementos. O nível de informação de para o projeto arquitetônico não precisa ser grande, porém precisa ser o mínimo para possibilitar uma classificação assertiva dos elementos modelados. Por outro lado, o projeto hidrossanitário precisa contar diversas informações que possibilitem a extração correta dos quantitativos. É nesse momento que entra em cena o RIE.
Os níveis de informação devem ser estabelecidos no RIE, indicando quais informações os projetistas precisam prever ou modelar para os elementos do projeto. Já o RIE deve ser associado ao PEB (Plano de execução BIM) para que seu cumprimento possa ser cobrado pela construtora.
Requisitos de Informação dos Elementos (RIE)
O RIE que utilizamos na Otus foi adaptado do LOIN, obtendo um requisito padrão que fosse mais assertivo para nosso gerenciamento de projetos, fazendo com que o nível de informação necessária para cada entregável seja determinado de acordo com seu propósito de uso.
A maior diferença entre o LOIN e o LOD é que o LOD está relacionado ao nível de detalhamento geométrico e de informações associadas ao elemento enquanto o LOIN está relacionado às necessidades de informação em diferentes fases do projeto ou do processo de construção.
Desta forma, o RIE nada mais é que um documento onde serão definidos requisitos e informações para a execução de um projeto em BIM, contendo especificações de como a informação dos elementos deve ser apresentada para possibilitar a sua classificação e retirada de quantitativos. Alguns exemplos desses requisitos são: Nome, Localização do elemento, Pavimento, Apartamento, Ambiente, IFCEntity, Área, Comprimento, Material, Fachada, Torre, entre outras.
Como usar o RIE no projeto BIM
A depender da atividade que será executada na obra, haverá um nível de controle diferente associado à informação no elemento do modelo BIM.
Mas como definir qual o nível certo para o meu projeto?
Quem vai definir esse nível é a construtora, informando a sua forma de execução e as especificidades que possui. Uma forma de analisar a execução da construtora é observando sua EAP (Estrutura Analítica de Projeto). Normalmente, quando queremos quantificar um projeto em BIM, associamos o RIE à EAP, pois nela podemos analisar a divisão da execução da construtora, podendo assim fazer a divisão do projeto para que seja mais fácil a extração de quantitativos depois.
Por exemplo, se a construtora realiza a execução por pavimento, esse é o nível de informação (categorização) que temos que inserir no elemento. Caso a construtora permita uma grande personalização por parte do cliente final, talvez seja melhor que as informações dentro do modelo BIM sejam segmentadas por apartamento, ou ainda por ambiente. A empresa deve fazer esse diagnóstico.
Outro ponto importante a ser ressaltado é que o RIE é evolutivo por fases. Não faz sentido na fase de definição de produto, detalhar as informações a nível de quantificação, pois o produto ainda vai sofrer muitas alterações. Quanto mais vão evoluindo as fases de projeto, mais o modelo deve ser evoluído.
É importante ressaltar que, em alguns casos, não necessariamente é preciso modelar todos os elementos, pois algumas informações podem ser encontradas analisando outros dados já existentes no modelo.
O que isso quer dizer?
Para ficar mais fácil de entender vamos trazer um exemplo:
Largura da janela + 2cm para cada lado.
O quantitativo de pingadeira das janelas pode ser retirado a partir da largura da janela com a adição de 2cm em cada lado. Então, caso a construtora necessite apenas da informação do quantitativo, não é necessário perder tempo modelando todas as pingadeiras do prédio. Para as imagens comerciais do prédio, a empresa responsável pela renderização pode absorver a representação gráfica, inserindo as pingadeiras nas imagens específicas.
Mas caso esse modelo seja usado para a validação de um projeto de fachada mais complexo, aí sim será necessário um cuidado maior com o detalhamento de informação do projeto BIM.
Claro que as pingadeiras das janelas são um exemplo, o mesmo pode acontecer para diversos itens como rodapé, soleiras, negativos, tipos de revestimento, etc., com diferentes tipos de divisão de informações que devem ser analisados e definidos com a construtora no momento da criação do RIE.
RIE na prática
Figura 01: Exemplo de requisitos de informação para pintura interna
Na figura acima, podemos verificar um exemplo de RIE para o elemento “Pintura Interna”. O requisito indica que o item deve possuir parâmetros que informem: o tipo de material, a área, o ambiente, o apartamento e o pavimento que está localizado. Ele também especifica, na localização, que a pintura deve terminar na altura do forro, ou seja, caso esteja acima da altura do forro, associado de pavimento a pavimento, o quantitativo não será confiável nem preciso.
Também é importante informar a fase de projeto na qual o item deve ser detalhado (nesse caso, o ciclo 2 da Otus corresponde à fase de pré executivo). A descrição informa que deve seguir o padrão construtivo da construtora, na Otus chamamos o padrão construtivo (ou Briefing) de DNA, é onde ela vai definir os tipos de revestimento e as especificidades de cada um para cada ambiente.
Qual a diferença do RIE para o Briefing ou o PEB?
Todos são necessários para definir informações de projetos e servem para diferentes propósitos:
- O PEB (Plano de Execução BIM), segundo a ISO 19650, serve para que as equipes responsáveis pelos entregáveis façam a gestão da informação solicitada no RIE e Briefing.
Figura 02: Exemplo de sumário de um PEB
- O Briefing da Construtora, ou DNA Construtivo, é onde haverá informações específicas de padrões construtivos ou materiais usados pela construtora, e que serão usados como base pelos projetistas para auxiliar na concepção do projeto.
Figura 03: Exemplo de Briefing de projeto Hidro
Como usamos o RIE aqui na Otus
Quer ver na prática como montamos o documento RIE (Requisitos de Informação dos Elementos) e aplicamos ele nos nossos projetos?
Fizemos um webinar mostrando, na prática, tudo sobre o RIE, no nosso canal do YouTube.