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Temas abordados: Inovação na construção, BIM, Estratégia BIM BR, Tendências para o setor.
É inegável o impacto que a tecnologia provoca, cada vez mais, no nosso cotidiano. Esse avanço já atingiu todos os setores da economia, transformando os processos e as relações de negócio, e criando demandas e requisitos, que resultaram em novos mercados e uma transformação na relação do fornecedor com o cliente.
O setor da construção civil, mesmo sendo um dos que menos inovou no decorrer das últimas décadas, vem apresentando mudanças que podem modificar a maneira como é encarado o desenvolvimento de um empreendimento. Michel Temer, ex-presidente do Brasil, assinou no dia 17 de maio de 2018 o Decreto 9377, documento que serviu como base para a implementação da Estratégia BIM BR. O objetivo dessa estratégia é disseminar os conhecimentos e aplicações referentes a metodologia BIM, seguindo moldes similares ao aplicado em outra países, como a Government Construction Strategy (Reino Unido, 2011)
Mas o que é BIM? Segundo o próprio documento assinado pelo ex-presidente, BIM (Building Information Modeling, ou Modelagem da Informação da Construção) é uma metodologia de trabalho que possibilita ganhos significativos para o setor da construção. O mesmo cita números, que giram em torno de uma redução de 20% do tempo no desenvolvimento de projetos e uma redução de cerca de 10% do custo total da construção, em níveis avançados de implementação da metodologia. Outros benefícios, esses citados pela estratégia do Reino Unido, são a redução de desperdícios e ineficiência, o estímulo à inovação e a criação de novas oportunidades.
Mas como esse número poderão ser alcançados? Bom, a metodologia envolve três fatores principais. Tecnologia, os softwares e hardwares, que possibilitam a criação de protótipos virtuais da edificações, incluindo características físicas e funcionais dos elementos construtivos aos modelos digitais. Os processos, que representam os novos métodos colaborativos de troca de informação e modo de desenvolvimento dos projetos e construção. E as pessoas, a parte mais importante do esquema, que lidam com a tecnologia e aplicam os processos, tendo a função de assimilar e desenvolver a utilização de métodos colaborativos de gestão.
Com a metodologia BIM, torna-se possível um maior controle de todo o processo, desde a concepção dos projetos até a etapa de operação, e posteriormente uma possível demolição. Esse controle é resultado de uma interação de todos os responsáveis pelo processo, em etapas anteriores as tradicionalmente realizadas (cada responsável entra no fluxo em uma etapa diferente e com pouca comunicação), possibilitando uma maior troca de conhecimentos e, o desenvolvimento de um modelo virtual que centralize as informações e seja uma fonte atualizada de dados para obra e pós-obra. Essa mudança implica na evolução de um processo fragmentado e desvinculado, para um trabalho colaborativo, que incorpora ao modelo o conhecimento e a experiência de todos os envolvidos, transformando-se em um banco de dados da construção e possibilitando diversas simulações de cenários.
Mas não é tão simples. As modificações nos processos são acompanhadas de uma mudança cultural disruptiva, com alteração na maneira de colaboração, nos riscos, nas responsabilidades, nos entregáveis, no fluxo de informação, e consequentemente na remuneração de cada profissional. E, como toda mudança, ela vem acompanhada de um certa resistência, que exige confiança para ser ultrapassada.
E confiança não é algo que se ganha, mas se constrói. Logo, para que haja essa transição na maneira de encarar o empreendimento, é necessário provar o que se ganha com isso, qual é o valor dessa mudança. E, dificilmente um tomador de decisão, seja ele investidor, construtor ou incorporador, irá se propor a mudar os processos de maneira abrupta. Por isso que a utilização da metodologia possivelmente tenderá a evoluir de um método onde o modelo BIM é construído com base em objetos (representações 2D,) a um integração em nuvem, onde todos os envolvidos têm acesso ao resultado do desenvolvimento do modelo, opinando e otimizando as soluções. Essa estrutura evolui de acordo com o grau de maturidade dos participantes, aumentando a colaboração, e consequentemente, os benefícios do uso da metodologia BIM.
Portanto, pode-se esperar que o mercado brasileiro aumente gradativamente a utilização de modelos BIM, começando pela etapa de projeto, onde pesquisas indicam redução de custos somente com representações 3D, e partindo para o uso na controle da execução e no pós-obra. A estratégia BIM BR promovida pelo governo é um indicador que há uma confiança nos resultados obtidos pela metodologia, e que o processo é uma via de mão única, onde projetos sem informação irão se tornar insuficientes para atender aos níveis de qualidade exigidos.